SETORES DA INDÚSTRIA VEEM DECISÃO INJUSTA E PRECIPITADA

Segundo Abinee, associações tinham reunião com Paulo Guedes marcada para a próxima semana

Por Anaïs Fernandes — De São Paulo

Representantes das indústrias elétrica e de máquinas se dizem surpresos com a decisão do governo federal de reduzir o Imposto de Importação de bens de capital (BK) e de informática e telecomunicações (BIT). “É um incêndio por semana que a gente tem de apagar no Brasil”, diz Humberto Barbato, presidente da associação da indústria elétrica e eletrônica, a Abinee.

Juntos, BK e BIT reúnem 30 mil empresas, que empregam 1,1 milhão de funcionários diretos e 3,5 milhões indiretos, faturam cerca de R$ 400 bilhões e exportam US$ 21 bilhões, lista José Velloso, presidente-executivo da associação da indústria de máquinas e equipamentos, a Abimaq. “Vai ter impacto em toda essa cadeia, é enorme.”

Como política econômica, Velloso avalia que a medida é um equívoco. “Vai gerar desemprego na pandemia, afetando vagas formais e de qualidade. Vai impactar exportações e diminuir arrecadação”, diz ele, acrescentando que a decisão tampouco atrai investimentos. “Investimento, hoje, é vacina e crescimento econômico, mas estão prejudicando o maior setor manufatureiro do país.”

Velloso reforça que a Abimaq não é contra abertura comercial, mas diz que a decisão não foi transversal. “Não mexeram no resto da indústria, agricultura e mineração, nos nossos insumos”, aponta. Isso é ainda mais danoso, segundo ele, porque a indústria enfrenta pressão inflacionária nas matérias-primas, que, em 12 meses até fevereiro, sobem 75%, pelo indicador da FGV. “Bens intermediários e insumos em geral, 35%. A inflação dos nossos preços de venda, ou seja, o que conseguimos repassar, foi de 16% em 12 meses. Estamos espremidos pelos custos e agora ainda teremos que reduzir nossos preços de venda em 10% para competir. Impossível, não tem margem para isso”, afirma.

Ele questiona por que o governo não esperou a reunião do Mercosul, no dia 26, para aprovar uma redução da Tarifa Externa Comum (TEC). “Se o Mercosul não der permissão, o Brasil já baixou BK e BIT. O governo escolheu o perdedor.”

A Abinee também se diz “bastante incomodada” com a forma da mudança. Segundo Barbato, associações já tinham reunião com o ministro Paulo Guedes marcada para a próxima semana. “Ficamos chateados também porque sempre falamos para o ministro que não poderia começar só por BK e BIT, é injusto”, afirma, reforçando não entender por que o governo não esperou a reunião do Mercosul. “Parece um pouco improvisado. Vai trazer insegurança e prejuízo ao setor.” Nesse sentido, Velloso critica a falta de previsibilidade. “Daqui sete dias está valendo e nenhum empresário se preparou.”

Já para a indústria importadora, o intuito da decisão vai na direção correta, mas ainda é pouco. “Se for 10% da alíquota, é uma redução tímida, não vai resolver a necessidade de baratear o custo das máquinas importadas”, diz Paulo Castelo Branco, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei).

Acesso em: VALOR ECONÔMICO

 

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